sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Caos, com caviar, patas de caranguejos e lagostas


Mais uma vez o Brasil ganhou as páginas dos portais de notícias do mundo. Desta vez foram as imagens da guerra entre facções criminosas, pela superlotação no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luiz do Maranhão. Mais uma barbárie, com direito a exposição de corpos decapitados, que envergonha a nação consciente, pelo grau de violência a qual chegamos.

Somente no último ano foram mortos 59 detentos naquele presídio, de acordo com relatório do Conselho Nacional de Justiça. O problema é que no Brasil a criminalidade aumenta em proporções muito maiores que a capacidade de construirmos presídios. Segundo dados do Ministério da Justiça, em 1992 haviam 114.377 encarcerados nos presídios brasileiros. Em dez anos esse número subiu para 549.577 presos - um aumento de 380,5% no período.

Atualmente o Brasil ocupa a quarta posição no mundo de população encarcerada. Perdemos apenas para a China, Estados Unidos e Rússia. Neste ranking ficamos na frente de países muito mais populosos, tais como o Paquistão e a Índia. No entanto, continuamos apresentando elevados indicadores de criminalidade, o que demonstra que o problema mais grave é que ela continua solta nas ruas.

Gastamos cada vez mais com a construção de presídios, com a manutenção de detentos – cada um deles custa em média ao Brasil R$ 2.800,00 por mês – e com ações repressivas. Faltam-nos, entretanto, ações preventivas, principalmente quanto ao consumo de drogas, que é a principal causa da criminalidade em nosso país.

Os programas sociais do governo até agora não criaram oportunidades de saída para as famílias pobres e desestruturadas, justamente aquelas que têm maior quantidade de filhos. Quando se analisa a educação como instrumento de inclusão e ascensão social, constata-se também que a evolução, além de lenta, ainda é sem qualidade.

O próprio Maranhão, governado há décadas pelo clã dos Sarney’s, está entre os estados brasileiros que apresentam os piores indicadores de desenvolvimento humano. Lá é um exemplo clássico da indigência da nossa política.

O problema que agora explodiu no Complexo Penitenciário de Pedrinhas é tão grave, que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a solicitar às nossas autoridades a realizar a “imediata, imparcial e efetiva investigação, para apurar e encontrar os responsáveis” por aquela barbárie. Solicitou ainda que elas “façam imediatamente ações buscando restaurar a ordem”.

Mas, em ano de eleições presidenciais, o Governo Federal faz de tudo para se descolar da tragédia. O governo do Maranhão e o clã Sarney são fieis e importantes aliados.  

E tudo se locupleta em um caos: enquanto os presos amotinados e em guerra mandam assassinar inocentes e realizar distúrbios nas ruas, o governo do Maranhão abre licitação para comprar 80 Kg de lagosta, uma tonelada e meia de camarão, 750 Kg de patinhas de caranguejos, oito sabores de sorvete, entre outras iguarias, que “deverão ser entregues na residência oficial e na casa de praia” usada pela governadora Roseane Sarney, conforme publicado na “Folha de São Paulo”. Para o cerimonial serão licitados uísque e caviar.

Este é um retrato do Brasil “desenvolvido e sem problemas” em ano de Copa do Mundo.

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