Há algum tempo, Jô Soares, em entrevista ao escritor cachoeirense Ricardo Marcondes, recordou que em viagem para Guarapari, resolveu entrar em Cachoeiro de Itapemirim para conhecer a cidade; depois, comentando essa visita com Rubem Braga, disse que “Cachoeiro de Itapemirim era uma cidade feia”, e que, então, Rubem respondeu: “- Jô, nenhuma cidade que tem um rio que a corta ao meio é uma cidade feia”.
Esta resposta de Rubem Braga ficou na minha memória. Nunca a esqueci! Guardo-a não só pela beleza da expressão, como também pela forma de sentir o sentimento de um poeta e sua maneira singular de ver a beleza nas coisas que lhe vão mostrando a vida. A partir daí, passei, então, a admirar ainda mais Rubem Braga, além do cronista, pela sensibilidade humana.
Agora, relembrando a repentina visita do Jô Soares a Cachoeiro, me vem à memória que ele talvez não tenha percebido o rio que banha a nossa aldeia, o nosso Itapemirim, – que me permita o leitor lembrar aqui Fernando Pessoa - e que, por isto, tenha sido infeliz na forma de ver a nossa cidade. Pode ser, também, que ele não estivesse em um bom dia...
Mas, acho mais plausível a primeira hipótese, pois há anos o Itapemirim vem sendo encoberto. São prédios e mais prédios escondendo as suas margens; outdoors colocados, indiscriminadamente, por todos os lados; caminhões de fretamento ao longo do pequeno trecho urbano ainda descoberto; matos e sujeira que encortinam a visão do leito, como na Volta do Caixão; são tantos os descasos acumulativos das autoridades e anos e anos de desleixo com o nosso rio.
Por isto, seriam boas e oportunas mais iniciativas, tais como a proibição de novas edificações às margens do rio, a desapropriação de terrenos ainda vagos, como os de perto do Liceu, e até mesmo a decretação de áreas de utilidade pública, para futuras desapropriações. Vale a pena pensar grande e pensar lá na frente. Pensar em ver o rio de volta, com suas belezas sendo colocadas para a apreciação de todos.
Outras iniciativas são de educação. É lamentável ver entulhos jogados às margens do rio e o descaso da própria população. Falta a alguns a sensibilidade para respeitar e preservar o que nos presenteou a natureza com que ela tem de mais lindo.
O mesmo acontece com relação aos outdoors e aos caminhões estacionados ao longo do rio; todos esses fatos têm a agravante da conivência do poder público.
Vale também lembrar, que no passado as construções eram feitas com as costas voltadas para o rio. A frente ficava para a rua, sem vistas, sujeita a barulhos e poluição. Mas a beleza deve ser vista de frente! O rio e as suas ilhas não podem ser colocados em segundo plano, nem as garças e os outros pássaros que fazem nele os seus habitats.
(Se eu tivesse uma casa às margens do rio, colocava a varanda em sua frente. Assim, poderia contemplar permanentemente a paisagem e observar os pássaros nas suas chegadas e partidas. Lá teria uma rede para as leituras e uma mesa com o notebook para a redação destes artigos, com todo sossego que isto me permitiria).
O rio Itapemirim tem que respirar a vida; por isto vibro com o trabalho de despoluição feito pela concessionária de serviços de água e de esgoto da nossa cidade – atualmente Foz do Brasil. Podemos, assim, observar que a qualidade da água está se recuperando. Hoje temos menos poluição e mau cheiro. Falta é o replantio das matas ciliares.
Pelo amor a Cachoeiro e ao Itapemirim tenho certeza que Rubem Braga aprovaria as sugestões ora apresentadas. Também não tenho nenhuma dúvida que em nova visita a nossa cidade, Jô Soares a consideraria muito mais bela.
O rio Itapemirim não foi só da geração de ontem, como é da geração de hoje. Temos que cuidá-lo com muito esmero porque ele é também o rio de muitas e muitas gerações que virão pela frente.
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