Na
última sexta-feira, a presidente eleita Dilma Roussef (PT-RS), falando em São Paulo para o seu partido,
exaltou que receberá do governo de Lula da Silva uma “herança bendita”. É claro
que ela não falaria de outro modo, pois, afinal, o presidente Lula da Silva,
além de seu criador, foi o grande fiador de seu nome junto ao eleitorado.
Mas,
na verdade, essa “herança bendita” nada tem de bendita, da forma como disse a
presidente eleita. Quiçá seja ela a verdadeira herança maldita! A realidade é que o
país que Dilma Rousseff assumirá é muitíssimo pior do que o herdado por Lula da
Silva do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Uma
coisa é a propaganda de governo; outra coisa é a realidade fria dos fatos e dos
números! Mas, nem tudo são flores, como os governos populistas sempre querem
fazer que os seus “súditos” creiam. Eles podem enganar a maioria, por boa fé e
falta de informação, mas a liberdade da democracia oferece a janela da verdade,
que sempre prevalecerá mais cedo ou mais tarde.
Contudo,
a situação atual da economia do nosso país - com exceção do nível das reservas,
resultante dos preços favoráveis das nossas commodities no mercado externo,
principalmente influenciado pelo consumo da China, e do emprego - não é nada
confortável. Pelo contrário, está muito longe de ser essa “herança bendita”.
É
oportuno fazer algumas comparações, que possibilitarão aos leitores uma análise
entre as duas situações: quando Lula da Silva assumiu, e a herança que ele
deixa para a sua sucessora. Resumidamente, apontamos os seguintes pontos:
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No final do governo de FHC a balança comercial brasileira consolidava um ciclo
virtuoso, com o aumento das exportações, em função do câmbio flutuante e da
valorização dos nossos produtos no mercado externo. A equipe econômica já
minimizara o efeito Lula, que alvoroçara o mercado.
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Hoje, o real valorizado encarece os nossos produtos no mercado externo. Assim, o resultado da balança comercial brasileira é cada vez mais desfavorável; as
exportações diminuem e as importações aumentam de maneira descontrolada. As
nossas indústrias entraram em um processo de estagnação da produtividade.
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Com o desequilíbrio da balança comercial, passamos a depender ainda mais do
capital externo para fechar as contas. Por isto, atualmente recebemos
mais capital especulativo que no período anterior.
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Saímos de um sistema de controle de gastos, para o de gastança descontrolada,
principalmente pelo aumento da máquina pública. São contratações desenfreadas
de funcionários, aumento da burocracia de Estado e baixo nível de poupança para
realização dos investimentos necessários.
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O consumo do governo saltou de 4,2% para 8,8% do PIB, enquanto os investimentos
não passaram de 1,6%, também do PIB, mesmo com a injeção de recursos no BNDES, para
financiamento das empresas.
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A carga tributária aumentou de 32% para 36% do PIB, para fazer frente ao
aumento dos gastos do governo.
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Em 2002, a dívida externa era de
UR$ 215 bilhões e a dívida bruta de R$ 1,1039 trilhão. Atualmente, a dívida
externa é de US$ 254,1 bilhões e a dívida bruta estimada em R$ 2,450 trilhões,
para final de dezembro de 2010.
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Em 2002, o Lucro dos bancos foi de R$ 32 bilhões; ao final de 2010 está
projetado em aproximadamente R$ 167 bilhões. A concentração de renda no país
não sofreu mudança significativa e mais da metade dos empregos ainda é gerada
na economia informal.
Não
falaremos aqui da política do “toma lá dá cá”, das 59% das residências sem
esgoto, dos maiores juros do mundo, do assistencialismo compra-votos sem porta
de saída, da falta de infraestrutura, da qualidade da educação, do retrocesso
da saúde, da quebra dos valores éticos e de muitas e muitas outras coisas.
Talvez
essa “herança bendita”, a que a presidenta eleita se referiu, não seja o Brasil
real que ela assumirá no próximo dia primeiro de janeiro. Pode
ser que seja a de um país imaginário, conforme propagado pelo presidente Lula
da Silva - “como nunca se viu na história deste país”- que ela continuará a
propagar nos próximos quatro anos de seu governo.