Sinceramente,
não sabemos o nome da síndrome. Também não sabemos se ela tem nome, ou mesmo se
já foi estudada, pois nas questões do comportamento humano nosso conhecimento é
insignificante, quase nulo. A única coisa de que podemos conjecturar,
entretanto, é que em se tratando de síndrome deverá levar o nome de seu
descobridor, da forma como as ciências costumam homenagear a quem se dedicou a
determinado estudo.
Vejam
que ele já foi chamado de “O Cara”. Consideram-no agora o “gênio” da corte. Ele
mesmo passou a ter a certeza de que em oito anos tornou o Brasil “um país
desenvolvido”, fazendo muito mais do que todos os outros governos, desde o
tempo em que éramos colônia de Portugal à Nova República. Então, para comprovar
que realmente é “O Cara”, vamos começar por suas origens, usando inclusive suas
próprias palavras: “Eu sou filho de uma mãe que nasceu analfabeta”. Por seu
ego, certamente gostaria que a sua mãe tivesse nascida aculturada, como também
poliglota.
Aliás,
a língua estrangeira é uma das suas atrações. Por isto, diz com toda
firmeza que “gostaria de ter estudado latim, pois assim eu poderia me
comunicar melhor com o povo da América Latina”. Infelizmente, ele não estudou
latim, nem português, simplesmente porque nunca gastou de estudar, muito menos
de leitura. No entanto, nada disso lhe faz falta, nem acarreta algum obstáculo,
porque crê fielmente ter conhecimento de todos e de tudo. Tanto é assim, que fala
com propriedade que “nos EUA até pobre fala inglês”.
Com
sua sapiência nosso “gênio” envolveu quase toda nação brasileira. Sua
popularidade inclusive tornou-se muitíssimo maior que a do palhaço Tiririca,
eleito recentemente deputado federal com mais de um milhão e meio de votos. O
sucesso, portanto, é inquestionável, pois como ele mesmo diz, “se não tivermos
sucesso, corremos o risco de fracassarmos”. Realmente ele não corre o risco de
fracassar, por considerar-se o próprio sucesso em pessoa.
Com
essa síndrome, que não sabemos o nome, transformou-se em um exímio mestre, que
após as aulas tem sempre a recompensa dos aplausos, seja onde estiver a
plateia. Dificilmente encontraremos em nossa história outro igual! Fica aqui,
somente como registro, que em uma de suas aulas mencionou que “o Brasil só não
faz fronteira com o Chile, o Equador e a Bolívia”. Em outra, que “o holocausto
foi um período obsceno na história da nossa nação, quero dizer na história
deste século. Mas todos vivemos neste século. Eu não vivi neste século...”.
Além
dos amplos poderes, da “genialidade” e da humildade que tem em reconhecer que
“não sabia” disto ou da daquilo, quando o momento lhe convém, o nosso “gênio”
da corte também tem se mostrado um competente “futurólogo”. Não é à toa que diz
que “o futuro será melhor amanhã”, ou que “nós estamos preparados para qualquer
imprevisto, que possa ocorrer ou não”.
Além
de tudo é também um exímio revolucionário. Suas idéias são invariavelmente
contra a “imprensa golpista” e as “zelites”, por serem sempre circulantes. Mas
não no sentido de circulante, como o leitor pode pensar, em se tratando
pensamento, da circulação sanguínea. Porém, no sentido exato da palavra, da
forma de círculo, ou como ele diz: “Eu não mudei ideologicamente. A vida é que
muda. A cabeça tem esse formato para as idéias poderem circular”.
Mas,
deixando o pensamento circulante de lado, vamos à economia. E por que não
lembrar a aula magna, quando deu ênfase que “a maioria das nossas importações
vem de fora”! Como o leitor poderá testemunhar ele não tem dificuldades para
abordar qualquer tema. Tudo que pronuncia tem “a palavra certa pra doutor não
reclamar”, conforme o dizer do cantador nordestino Zé Ramalho, em sua música
“Avôhai”.
Prova
disso é quando fala de obras. Neste aspecto, pode até inaugurar uma mesma obra
várias vezes, ou mesmo uma ainda não iniciada, mas nunca falta a palavra certa,
conforme a seguinte explicação: “Não será por falta de lealdade aos princípios
que não iremos cumprir. Se a gente não cumprir é porque teve fatores
extraterrenos, que não permitiram que nós cumpríssemos”.
Nosso
“gênio” trata com a mesma desenvoltura a filosofia e as ciências, sejam elas do
campo social ou da natureza. Ao
explicar o desequilíbrio climático, deu
a seguinte luz aos cientistas: “Então essa questão de clima é delicada por quê?
Porque o mundo é redondo. Se o mundo fosse quadrado ou retangular, e a gente
soubesse que o nosso território está a 14 mil quilômetros de distância dos
outros centros poluídos, ótimo, vai ficar só lá. Mas, como o mundo gira, e a
gente passa lá em baixo onde está mais poluído, a responsabilidade é de todos”.
Depois foi amplamente aplaudido...
“Como
nunca na história deste país” observamos um “gênio” com inteligência tão
grande. Esta é a marca que fica na nossa história com os aplausos e a
aprovação quase unânime do nosso povo. É o que termina e
poderia se acabar, definitivamente, no curso desta semana. Mas,
sobreviverá até quando?