sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sem dissimulação e dólar na cueca

Quem se lembra de quem é o deputado José Guimarães (PT-CE)? Para os que não se lembram, vamos começar dizendo que ele é irmão de José Genoíno, ex-deputado federal (PT-SP), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e formação de quadrilha, no processo do MENSALÃO. É obvio que Genoíno, todos conhecem! Mas, José Guimarães? E se falarmos de dólares na cueca? Agora, não temos dúvida; todos irão se lembrar!    

Mas, vale relembrar que José Guimarães era deputado estadual no Ceará, em julho de 2005, quando seu assessor José Adalberto Vieira de Silva foi preso pela Polícia Federal, carregando na cueca US$ 100 mil, mais US$ 200 mil em uma maleta. José Adalberto pretendia, naquela ocasião, embarcar para Fortaleza no Aeroporto de Congonhas – SP, quando foi preso. Dois dias depois, José Genoíno renunciou ao cargo de presidente do PT.

Atualmente, José Guimarães é deputado federal, e vice-líder do governo de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.

Na semana passada, José Guimarães voltou aos noticiários dos jornais, por suspeição de receber propinas para facilitar contratos fraudulentos junto a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cogece). Segundo a Operação Águas Claras, realizada pela Polícia Civil e pelo Grupo de Repressão ao Crime Organizado - órgão ligado ao Ministério Público (MP) de São Paulo -, o nome do deputado é citado inúmeras vezes em escutas telefônicas.

A Operação Águas Claras apurava irregularidades em São Paulo. Mas as investigações apontaram que a empresa Allsan Engenharia e Administração e seus sócios, atuavam em mais quatro estados, inclusive no Ceará. Em São Paulo foram presas 18 pessoas. A ramificação no Ceará deverá ser apurada pelo MP daquele estado. Por isto, o MP de São Paulo já encaminhou o relatório das investigações, com aquilo que foi apurado.

Nos diálogos entre membros da quadrilha que foram presos, segundo esse relatório, o deputado Guimarães ora era chamado pelo nome, “ora por cueca”, ora por “capitão cueca”. Há ainda citações de repasse de dinheiro ao deputado, que é padrinho político do diretor comercial da Cogece, Antônio Alves Filho, que aparece nas ligações.

Tanto no caso dos dólares na cueca, como no caso da Cogese, o deputado Guimarães nega veementemente qualquer participação, tal como o deputado Paulo Maluf (PP-SP) - autoproclamado comunista do século XXI -, nega ter desviado 8,3 milhões de euros de obras públicas, depositados na Ilha de Jersey.

Não duvidemos que Guimarães ainda venha a ser defendido pelos “cumpanheiros”, tal qual como já vimos no MENSALÃO e na CPMI que deveria investigar as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com os políticos e empresários, que acabou em uma vergonhosa pizza. Pior é que ainda tiveram a ousadia de temperá-la com vingança, ao incluir Policarpo Júnior da “Veja” e Roberto Gurgel, do Ministério Público, por denunciarem o MENSALÃO. 

Aliás, o mau exemplo vem de cima, pois até hoje Rui Falcão, presidente do PT, continua afirmando que “não houve compra de votos” e “que não foram utilizados recursos públicos” no MENSALÃO, como se todos no Brasil fôssemos ignorantes e idiotas.       

A dissimulação chega ao ponto do absurdo, conforme ora presenciamos nos ataques raivosos endereçados ao Supremo Tribunal Federal (STF), comparando-o a “tribunal de exceção”, entre outras qualificações de ódio e rancor. Mas, a sujeira não pode e não deve ficar sob o tapete.  Vale dizer, então, que está passando da hora de o PT mudar seus discursos e de rever os seus preceitos éticos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Largada para a reeleição

O jantar realizado no palácio da Alvorada pela presidente Dilma Rousseff, com as principais lideranças do PT e do PMDB, parece ter sido uma festa com discrição (em dependências públicas, e com dinheiro público). O próprio Secretário Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, chamou o jantar (ou festa?) de “jantar de congratulação”, conforme publicado no site do jornal “Correio Brasiliense” na quarta-feira.
Pela mesma fonte, “o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participou do jantar, mas se reuniu com Dilma à tarde, na residência oficial. Lula chegou à Alvorada às 15h20 e saiu às 18h40, sem falar com a imprensa”. Portanto, foram mais de três horas de orientações à presidente, para que ela acertasse a medida da sua conversa com os políticos à noite.
A reunião com Lula mostrou-se positiva para Dilma Rousseff . As informações de participantes são de que a presidente estampava um excelente humor, bem diferente de seu comportamento habitual. O ambiente também estava na perfeita ordem, descontraído; todos muito à vontade! Até mesmo Rui Falcão, presidente do PT, era pura alegria. Nem parecia o mesmo dirigente descontrolado e raivoso, “perseguido” por tudo e por todos.
Josias de Souza, articulista da “Folha de São Paulo”, em seu blog, diz que a presidente “celebrou o fato de as disputas não terem produzido prejuízos para a boa convivência das legendas que apoiam o governo no Congresso”. Depois, satisfeita, celebrou com elogios o apoio que o então candidato de seu partido (PT), Fernando Haddad, recebeu do PMDB em São Paulo.
O apoio de Gabriel Chalita (PMDB-SP), para a presidente, foi fundamental e decisivo para a vitória do PT. Sua admiração por Chalita ficou tão evidente, que até o credencia a ocupar em breve um ministério.
Para acomodar os aliados, todos de “absoluta competência”, a Câmara dos Deputados já aprovou a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, com status de ministério. E este será o 40º ministério da presidente Dilma Rousseff. É claro que a oposição “golpista” (PSDB, PPS e DEM) esbravejou. Mas, para os aliados, a presidente necessita da nova Secretaria, que nasce com mais 60 cargos de assessores de confiança, para acelerar nosso desenvolvimento.
Voltando ao jantar (ou a festa?), a “congratulação” entre o PT e o PMDB foi tão amistosa, que a presidente e os lideres petistas presentes reforçaram a aliança entre as legendas, sinalizando o apoio a Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado, e a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para a Câmara dos Deputados. O poder da descontração era tanto, que a presidente se esqueceu que até há pouco tempo Calheiros era um dos seus desafetos.
Josias de Souza diz ainda em seu blog, que José Sarney (PMDB-AC), presidente do Senado, “interveio a certa altura para bajular Dilma. Disse que os partidos deviam o bom desempenho nas urnas à anfitriã”. Então, não duvidemos que esse gesto nobre de Sarney é também uma retribuição à presidente, pelo acolhimento da candidatura de Renan Calheiros.
Ah! Paulo Maluf não se encontrava presente no “jantar de congratulação” (ou festa?) porque só foram convidadas as principais lideranças do PT e do PMDB. Não podemos nos esquecer, que o deputado Paulo Maluf é do PP (SP).
Contudo, com certeza virão ainda outros “jantares de congratulação” (?). Não faltarão oportunidades para os que não foram convidados. Afinal, foi dada a largada para a reeleição.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Pizza com sabor de hipocrisia


O retorno aos trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que “apura” as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, foi simplesmente VERGONHOSO. A maioria – diga-se, a base do governo – praticamente encerrou os trabalhos ao prorrogar a CPMI por 48 dias, o que impedirá novos depoimentos e a quebra de sigilos da empreiteira Delta, ou das empresas de fachada ligadas ao esquema.
A verdade é que o Planalto e a base aliada não queriam que fosse apurado mais nada. A oposição, por sua vez, fragilizada tanto na Câmara dos Deputados como no Senado, não conseguiu o número de assinaturas necessárias para prorrogar os trabalhos por mais seis meses. Assim, essa CPMI acabará em uma VERGONHOSA PIZZA, temperada com dissimulação e cinismo, e com sabor de hipocrisia.
O próprio relator, Odair Cunha (PT-MG), não esconde que já tem o relatório da CPMI concluído. Fatalmente, seu relatório estará centrado nos oposicionistas ao governo, com destaque para o já desmoralizado ex-senador Demóstenes Torres e o governador de Goiás, Marcondes Perillo (PSDB-GO). Pode ser que ele ainda tenha a cara de pau para elogiar seu correligionário de partido, Agnelo Queiroz (PT-DF), governador do Distrito Federal.
Vale lembrar que essa CPMI só foi criada pela tentativa da cúpula petista, encabeçada por Lula da Silva, José Dirceu e Rui Falcão, de melar o julgamento do MENSALÃO.
Na edição do último dia de maio deste diário “Aqui Notícias”, veiculamos o artigo intitulado “Dissimulação Escancarada”, quando falamos dessa estratégia petista. Os alvos escolhidos foram Roberto Gurgel, procurador geral da República, a oposição e a imprensa independente. Isso sim, uma tentativa de golpe, sem dignidade e escrúpulo.
Todos sabem que a empreiteira Delta, até estourar o escândalo de Demóstenes Torres, era a principal executora das obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, menina dos olhos da presidente Dilma Rousseff.  Por que não investigar as ligações da Delta com as empresas de fachadas que irrigaram o esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira com milhões de recursos?
Diz o ditado e a sapiência popular: “Quem não deve não teme”.
A empreiteira Delta tinha bilhões de contratos com o governo, realizando obras de norte a sul do Brasil. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), “as investigações indicam que Cachoeira é parte da organização criminosa e a cabeça do esquema é a empreiteira Delta”. Há fortes suspeitas, inclusive, de que Carlinhos Cachoeira seja sócio de Fernando Cavendish, principal acionista da Delta.
É esse mesmo Cavendish amigo íntimo do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), também blindado pela base do governo.
Por todas essas razões, temos que concordar com o que disse o senador Pedro Taques (PDT-MT), em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”: “Estamos jogando o lixo para debaixo do tapete e o lixo está fedendo”. Talvez, por isto, a decisão de encerrar a CPMI tenha se dado somente agora, depois do calor das urnas e na véspera de um feriado. Assim a repercussão é menor.
Fica aqui, no entanto, o consolo de que avançamos no âmbito do Judiciário, com o julgamento do MENSALÃO. Mas, quando a questão é política parece que estamos sempre fadados ao retrocesso.